Por Debbie Leite
Em 4 de novembro de 2025, a cidade de Nova Iorque elegeu, com 50.4% dos votos, Zohran Mamdani: o primeiro prefeito muçulmano da cidade, o mais jovem desde 1892, membro dos Socialistas Democráticos da América, que fez uma campanha ao redor de pautas como moradia acessível e uma vez disse que prenderia o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu caso ele viajasse a Nova Iorque. Algumas semanas depois, o político se encontrou com Donald Trump no salão oval da Casa Branca, e o presidente republicano declarou: “Nós concordamos em muito mais do que eu teria pensado”.[1]
O entusiasmo que a campanha de Mamdani conquistou em uma base jovem, alinhada a pautas como o apoio à causa palestina e a redução dos custos de vida, sem dúvidas tem um significado político; representa um descontentamento por baixo, um sentimento de oposição ao governo Trump, ao conservadorismo e a uma lógica privatista brutal onde o Estado não garante nem ao menos direitos básicos como a saúde. Esse é um reflexo do mesmo fenômeno que levou às ondas de manifestações nos últimos anos por pautas como o combate ao racismo ou a solidariedade com o povo palestino, e atualmente leva a iniciativas de autodefesa dos imigrantes contra as forças repressivas da ICE (Immigration Customs Enforcement / Serviço de Imigração e Alfândega). É a expansão de um setor que está insatisfeito com o regime de falsa democracia e com o capitalismo, e se coloca em movimento.
Essa é uma dinâmica progressiva, que abre a possibilidade de fragilizar o imperialismo por dentro e de impulsionar a construção de uma ala revolucionária. O limite com o qual se choca, no entanto, é o da institucionalidade, como se vê no caminho trilhado pelo prefeito eleito de Nova Iorque. Apostar em uma ala esquerda ou radicalizada dentro da cédula do Partido Democrata, sem independência organizativa ou política frente àqueles que constituem um pilar do regime opressor e explorador, só conduzirá a novas traições e frustração. É necessário direcionar esse descontentamento legítimo que existe por baixo para a organização de um partido socialista independente, que rompa por completo com a velha política, e que possa questionar as bases do sistema capitalista; não só a distribuição da riqueza, mas a sua produção.
Sobre qual realidade ocorreram as eleições?
Para compreender o processo eleitoral da cidade de Nova Iorque e seus resultados, é preciso primeiro olhar para a situação econômica e política do conjunto do país.
O capitalismo internacional ainda não se recuperou da última grande recessão e da crise econômica que passou durante o período da pandemia. A burguesia imperialista, centralmente localizada nos Estados Unidos, tenta recuperar sua taxa de lucro a todo custo, e vem daí a escalada nos ataques à classe trabalhadora e as políticas protecionistas como as tarifas impostas por Trump sobre o resto do mundo. Essas tarifas também afetaram negativamente os trabalhadores no interior dos Estados Unidos, por exemplo, com um aumento no custo de alimentos como a carne (ao ponto que o presidente foi forçado a recuar em algumas das taxações). Esse é apenas o aprofundamento de um processo de retirada de direitos que não começa agora, mas vem desde o governo de Ronald Reagan (presidente entre 1981 e 1989, responsável pela aplicação de um conjunto de medidas neoliberais, incluindo cortes nos gastos domésticos em programas sociais, resultando em uma ampliação da desigualdade econômica e uma enorme dívida do país) e seguiu tanto sob mandados de democratas quanto de republicanos, dando mais um salto sob o governo atual.
É compreensível, então, que tenha desmoronado o “sonho americano”. É difícil acreditar que é possível subir na vida através apenas do trabalho duro quando, mesmo trabalhando incansavelmente, melhorias de vida básicas parecem inalcançáveis. Tomando como exemplo a questão da moradia, uma pesquisa aponta que 86% dos inquilinos nos Estados Unidos gostariam de comprar uma casa mas não tem condições financeiras, sendo que desses, 54% acreditam que jamais conseguirão [2]. Na cidade de Nova Iorque, considerada a mais cara dos Estados Unidos, mais de dois terços da população vive de aluguel, sendo que o preço médio do aluguel em 2025 equivale a 55% da renda típica familiar, e no último ano o preço para morar em um apartamento de até dois quartos subiu 4.2%.[3][4]
Também é relevante apontar que mais de três milhões de imigrantes moram na cidade [4], segundo as estatísticas oficiais. Enquanto esse número representa o total de moradores nascidos em outro país, existe uma parcela importante dentro disso que são os de origem latina, que hoje sofrem uma maior perseguição do governo Trump, sendo que mesmo que os que possuem os documentos de residência sofrem com preconceito e perseguição do Estado. Já os que não possuem a documentação estão sob risco de detenção e deportação, e não tiveram o direito de votar nas eleições, apesar de comporem também a força de trabalho da cidade; ou seja, não possuem direitos além do direito de ser explorado e trabalhar nos postos mais precários.
O papel dos Estados Unidos no genocídio que ocorre em Gaza também encontra uma resistência combativa ao redor do mundo e no interior do país. O governo estadunidense financia diretamente as forças armadas de Israel, e em troca Israel defende os interesses estadunidenses na região, em especial em relação à exploração de petróleo. Em 2024 houve uma onda de ocupações em universidades no país em solidariedade à luta palestina, pauta que ainda tem o apoio de uma importante camada de jovens ativistas.
São elementos como esses que levam a um crescente descontentamento com o governo federal. Vale lembrar que em outubro desse ano cerca de sete milhões de pessoas se manifestaram nas ruas em todos os cinquenta estados contra Trump, nos protestos chamados de “No Kings” (“Sem Reis”).
A indignação não é apenas com a atual administração, e mesmo durante o mandato do democrata Joe Biden foi possível observar uma crescente frustração com o modelo político do país. Assim, uma camada importante de jovens, trabalhadores e ativistas, começa a buscar novas alternativas. Pesquisas apontam uma queda de aprovação na ideia de “capitalismo” entre os estadunidenses, em especial entre eleitores democratas; em 2025, apenas 31% dos democratas com menos de cinquenta anos de idade tinham uma imagem positiva do capitalismo [5]. Isso faz parte do cenário de crise do Partido Democrata, enquanto seus líderes, e definitivamente seus principais financiadores do setor privado, querem manter as velhas formas de fazer política, uma parte de sua base busca caminhos novos e até radicais, o que se expressa no destaque conquistado por figuras como Zohran Mamdani.
Quem é Mamdani, e como ele chegou à vitória eleitoral?
Zohran Mamdani era relativamente desconhecido na política até sua campanha para prefeitura ganhar visibilidade, ele ocupava um cargo na Assembleia do Estado de Nova Iorque desde 2021.
O sistema eleitoral dos Estados Unidos possui algumas particularidades, uma dela sendo o bipartidarismo (apesar de ser possível concorrer como independente ou por pequenos partidos de “terceira via”, a política é dominada pelo Partido Democrata e o Partido Republicano), a outra sendo o processo de eleições primárias. Durante as primárias, os pré-candidatos de cada partido concorrem entre si pelos votos dos eleitores registrados daquele partido, determinando assim quem sairá para a corrida principal.
Apesar de não ser o candidato favorito dos democratas, Mamdani ganhou as eleições primárias contra o ex-governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, que decidiu concorrer ainda assim, como candidato independente. A disputa principal foi então, tecnicamente, entre dois democratas, uma vez que o candidato republicano, Curtis Sliwa, teve uma votação muito reduzida (Mamdani conquistando 50.4% dos votos, Cuomo 41.6% e Sliwa 7.1%). Isso ocorre em um contexto em que o Partido Democrata estava em uma profunda crise, especialmente desde as últimas eleições presidenciais, após perder apoio entre os trabalhadores por falhar em oferecer melhorias de vida durante o mandato Biden.
Os adversários de Mamdani na eleição à prefeitura representavam uma política mais tradicional. Andrew Cuomo não só foi governador de Nova Iorque, como seu pai, Mario Cuomo, também era um ex-governador do estado. Seu governo terminou com resignação em 2021 após acusações de assédio sexual chegarem ao público. Já na reta final das eleições, Trump declarou apoio a Cumo para derrotar Mamdani, apoio que Cuomo tentou rejeitar publicamente (o apoio de Trump ser visto como indesejável serve como indicador da popularidade do governo, sendo que em novembro de 2025 as pesquisas indicam cerca de 60% de desaprovação [6]).
A campanha de Mamdani era centrada em um programa de redistribuição de riqueza, com propostas assistencialistas que seriam financiados pela taxação sobre a população mais rica. Suas principais propostas incluíam: tornar os ônibus municipais gratuitos, congelamento dos alugueis e construção de moradia com preços acessíveis, assim como a construção de mercados públicos a preços acessíveis em cada distrito. Já em termos da taxação, propunha aumentar o imposto corporativo e o imposto para indivíduos com ganhos de mais de um milhão de dólares por ano. Também chama a atenção seu posicionamento sobre Gaza, afirmando que as ações de Israel constituem um genocídio e apoiando iniciativas como o BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções).
É relevante também o fato do prefeito eleito ser muçulmano, uma vez que os Estados Unidos tem um longo histórico de propaganda islamofóbica (desde 2001, quando a administração Bush se utilizou da comoção ao redor do atentado de 11 de Setembro para espalhar o ódio contra toda a população árabe, especialmente o setor muçulmano, e assim justificar gastar milhões em uma invasão imperialista ao Afeganistão; até atualmente, quando a propaganda islamofóbica serve como justificativa para os crimes de guerra e violações dos direitos humanos que ocorrem diariamente em Gaza com financiamento estadunidense).
A polarização política visível ao redor do mundo nos últimos anos também se expressou nesse processo eleitoral. O setor de extrema-direita, representado por Trump, acusou Mamdani de ser antissemita (acusação frequentemente atirada contra aqueles que falam a favor da causa palestina, se utilizando propositalmente de uma confusão entre o judaísmo enquanto etnia e religião e o sionismo enquanto projeto político [7]) e de ser comunista (apesar de todas as suas propostas caberem dentro dos marcos do capitalismo).
O apoio conquistado por Mamdani reflete um importante setor social. Ele conquistou 75% dos votos de eleitores jovens (18 a 29 anos), sendo ainda mais expressivo entre mulheres (82% dos votos de mulheres jovens, em contraste com 65% dos votos de homens jovens) e de minorias raciais (83% dos votos de jovens negros e 85% dos votos de jovens latinos, em contraste com 62% dos votos de jovens brancos) [8].Vale registrar que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório, sendo muitas vezes uma questão de quem consegue convencer mais pessoas a se registrar para votar e a sair de casa no dia da eleição.
Qual o significado dessa vitória?
A eleição municipal de Nova Iorque ganha hoje repercussão internacional, não só por se tratar da maior cidade do país que exerce dominação econômica e política sobre restante do mundo, mas porque não se trata de um caso isolado. O apoio popular que teve Zohran Mamdani é um sintoma da crise que passa o regime dos Estados Unidos, que pode levar a sua queda, se a classe trabalhadora for capaz de superar algumas entravas.
Sua votação pode ter diversas interpretações: um descontentamento com os altos custos de vida e a esperança em promessas relativas ao aluguel e transporte, um voto em oposição ao governo Trump, a simpatia por uma figura jovem e menos ligada à política tradicional, o apoio a um político que demonstrou preocupação com a questão palestina ou mesmo a um político que reivindica a palavra “socialismo”.
Esse setor que se amplia à esquerda nos Estados Unidos não apenas vota, mas também se mobiliza. É notável que tenha ganhado peso dentro do país a luta contra a política imperialista estadunidense no Oriente Médio, que se expressa através do Estado sionista de Israel e o genocídio que comete em Gaza. Assim como chama a atenção as ações de comunidades para proteger os imigrantes latinos da detenção e deportação. Historicamente, os países imperialistas fazem de tudo para manter sua própria classe trabalhadora leal, propagando ideologia nacionalista e evitando o fortalecimento de laços de solidariedade com os trabalhadores de nacionalidades oprimidas dentro do país e dos países oprimidos ao redor do mundo; mobilizações como essa representam uma ameaça ao projeto imperialista.
Há, contudo, uma entrava para que esse fenômeno político se converta no fortalecimento de um projeto revolucionário; a domesticação dos movimentos para dentro da ordem. Políticos “progressistas” atuando por dentro do Partido Democrata frequentemente servem como uma forma de reconquistar confiança na democracia burguesa. Canalizam a raiva sentida pelos jovens, trabalhadores e massas empobrecidas e renovam as esperanças em um sistema bipartidário falido, fazendo-os acreditar que é possível uma solução radical sem romper com a classe dominante e um dos partidos que ela sempre usou para dominar. Isso atrasa a auto-organização da classe e impede que os movimentos evoluam ao ponto de se chocar com o capital.
O que é o “socialismo” dos Socialistas Democráticos da América?
Donald Trump, junto aos veículos de imprensa que o apoiam, acusou Mamdani de ser “comunista”. O uso do termo como um ataque político faz parte de uma campanha de anti-comunismo, ideologia nada nova nos Estados Unidos, que utilizou a retórica da “ameaça comunista” para perseguir e controlar opositores ao governo dentro do país e opositores ao imperialismo na América Latina durante a Guerra Fria, mas que agora ganha nova vida nas vozes da extrema-direita contemporânea.
Na verdade, Zohran Mamdani não é um comunista, nem um revolucionário. Ele faz parte do DSA (Democratic Socialists of America / Socialistas Democráticos da América), um partido que representa uma vertente do que chamamos de reformismo: criticam o capitalismo, mas não propõe uma estratégia para sua derrubada, e apostam na aplicação de reformas, como aumentar os serviços públicos oferecidos pelo Estado. Essas reformas podem parecer radicais, ainda mais em um país como os Estados Unidos, onde a lógica privatista é tão forte que até serviços estatais básicos já comuns em outros países, como universidades ou hospitais públicos e gratuitos, não existem e podem até ser encarados como “propostas socialistas”.
Na realidade, se assemelham mais a modelos como o estado de bem-estar social aplicado em países como a Suécia, que convivem em harmonia com o capitalismo mundial (e muitas vezes só tem os recursos para dar um pouco mais de comodidade à sua classe trabalhadora porque exploram os recursos e trabalhadores de países periféricos). São propostas que podem oferecer um alívio momentâneo, mas se não acompanham uma reorganização da sociedade desde suas bases, são limitadas e efêmeras.
A “democracia” que eles defendem nada mais é que a mesma em que vivemos hoje, só que com a ampliação de alguns direitos. Até por isso, apesar de terem sua própria organização e não serem oficialmente parte do Partido Democrata, não enxergam contradição em fazer política por dentro de seu aparato, lançando e apoiando candidatos. Os democratas, “ala esquerda” do bipartidarismo que domina a política do país, têm as mãos tão sujas do sangue das vítimas do imperialismo quanto os republicanos, fazem parte da mesma máquina que se alterna de anos em anos para manter a estabilidade e explorar os trabalhadores. O DSA não pode avançar em organizar e responder às demandas da classe trabalhadora enquanto permanece por dentro desse jogo da falsa democracia, jogando com as regras de nossos inimigos.
Podemos analisar o caso de uma das principais inspirações de Mamdani, o político Bernie Sanders, que protagonizou um fenômeno eleitoral semelhante nas primárias do Partido Democrata para a eleição presidencial de 2020. Sanders ganhou visibilidade enquanto um auto-declarado socialista democrático, sua campanha trouxe um grande número de novos membros ao DSA, mas ao ficar claro que não ganharia, se retirou da corrida para apoiar Joe Biden, que continuou a política de guerra dos Estados Unidos no Oriente Médio, realizando seu primeiro ataque aéreo à Síria cerca de um mês após assumir a presidência [9]. O papel que uma campanha como a de Sanders cumpriu foi de canalizar o descontentamento de uma parcela da população para dentro do sistema, para seguir confiando nos democratas, no “mal menor”, na manutenção do capitalismo. Recentemente, Sanders chegou até a elogiar o trabalho de Trump em “assegurar a fronteira México-Estados Unidos” [10].
A reunião entre Trump e Mamdani
Após trocarem acusações e aparecerem como grandes adversários durante a campanha eleitoral, Mamdani, uma vez eleito, realizou uma reunião com o presidente republicano de extrema-direita, Donald Trump, no dia 21 de novembro. Após uma conversa a portas fechadas, os dois receberam a imprensa e responderam a perguntas juntos, surpreendendo o público com um tom de conciliação e declarações de interesses em comum.
Aqueles que depositaram sua confiança em Mamdani nunca saberão o que exatamente foi discutido em seu nome durante essa reunião, mas podem ouvir o que os dois disseram em seguida. Trump declarou que “Nós concordamos em muito mais do que eu teria pensado. Eu quero que ele faça um ótimo trabalho, e nós vamos ajudá-lo a fazer um ótimo trabalho” [11]. Mamdani, por sua vez, segue afirmando que Trump é um fascista quando questionado pelos repórteres [12], e mesmo assim afirma seu compromisso de trabalhar junto a ele, dizendo “Tudo que eu esperava fazer naquela conversa era estabelecer uma relação de trabalho e ter uma reunião produtiva que focasse no próprio trabalho (…)” e “Minha responsabilidade é com o trabalho, e fazer esse trabalho significa trabalhar com qualquer um, significa trabalhar com aqueles que se opuseram a minha candidatura, trabalhar com aqueles que pertencem a um partido diferente, trabalhar com aqueles com quem eu mantenho desacordos profundos” (grifo nosso) [13].
Quando o caminho trilhado é fazer política por dentro da institucionalidade, como propõe os socialistas democráticos, esse é o destino: a disposição para conciliação com qualquer um, mesmo com alguém que você considera um fascista. Independente das diferenças, a verdade é que Mamdani precisa da cooperação do presidente para governar, e Trump precisa da cooperação do gestor da maior cidade do país, como então é possível fazer um combate consequente ao projeto da extrema-direita? E como se opor aos ataques quando vêm das mãos de um democrata, ao mesmo tempo atuando por dentro de seu aparato?
Por um socialismo que ultrapasse os limites do sistema
Reconhecemos que a vitória de Mamdani, analisada ao lado dos processos de mobilização dos últimos anos, marca a existência de uma base de jovens e trabalhadores insatisfeitos, buscando por alternativas em questões como imigração, custo de moradia, serviços públicos e política externa dos Estados Unidos. Cada vez mais, é também uma base buscando alternativas ao neoliberalismo, ao imperialismo, ao capitalismo.
Para que esse fenômeno possa crescer e preparar o terreno para um projeto revolucionário para a classe trabalhadora estadunidense, atrelado à luta por libertação dos povos oprimidos pelo imperialismo e a revolução mundial, é preciso dar um passo além da proposta dos Socialistas Democráticos. É preciso que a classe trabalhadora se organize em um partido independente, rompendo com as amarras do Partido Democrata, pois não conquistaremos a liberdade atuando ao lado do opressor, por dentro da sua instituição que já não tem o que nos oferecer.
O sistema bipartidário cumpre um papel para a sustentação da ilusão de democracia nos Estados Unidos, performa um teatro político em que diferentes faces da mesma classe se enfrentam e se alternam, sabendo que quem ganhar, seja um lado ou o outro, terá compromisso com a manutenção do sistema. Candidatos de “fora da ordem” e com propostas mais à esquerda, como Zohran Mamdani e outros do DSA, também cumprem um papel; em momentos de instabilidade, restauram a esperança das massas no regime, canalizando sua insatisfação para as urnas e a política institucional, ao invés da auto-organização que precisamos.
Uma vez eleitos, fica clara sua incapacidade de combater e derrotar aqueles que oprimem e exploram; Mamdani, afinal, nem assumiu o cargo e já estabeleceu boas relações com Donald Trump. O problema é que os interesses da classe exploradora são opostos e irreconciliáveis com os interesses dos explorados, para um ganhar o outro tem que perder. Na questão da moradia, por exemplo, não será possível garantir o acesso à moradia para todos que precisam, em condições dignas e a preços justos, sem bater de frente com aqueles que lucram com a especulação imobiliária, e raramente os políticos eleitos estão dispostos a esse confronto.
Também apontamos a limitação das propostas de redistribuição de riqueza a partir de reformas no orçamento estatal, isso é, taxar mais uma parcela rica da população para financiar serviços públicos: elas não questionam como essa riqueza é produzida. No sistema capitalista, esse processo se dá a partir da exploração dos trabalhadores; as massas que nada possuem além do próprio tempo e habilidade para vender criam valor que é apropriado por uma classe parasita. A luta por reformas pode ser importante, mas precisa apontar um caminho de superação desse sistema, caso contrário, toda reforma que conquistarmos será limitada e poderá retroceder a qualquer momento.
Propomos um socialismo revolucionário, que tenha como único compromisso as necessidades e interesses da classe trabalhadora e construa um novo tipo de democracia, sobre as cinzas dessa falsa democracia onde somos explorados, onde os trabalhadores tenham o controle sobre o Estado. Para construir esse projeto, para poder responder a fundo a todo o sofrimento causado pelo capitalismo e a ganância das grandes corporações, é essencial a organização dos trabalhadores com independência de classe.
Referências:
[1] https://edition.cnn.com/2025/11/23/politics/trump-mamdani-meeting-immigration-details-discussion
[2] https://edition.cnn.com/2024/07/29/business/millions-of-renters-fear-theyll-never-be-able-to-buy-a-home
[3] https://www.nyc.gov/content/tenantprotection/pages/fast-facts-about-housing-in-nyc
[4] https://www.realtor.com/research/nyc-q2-2025-rent/
[5] https://apnews.com/article/socialism-socialist-capitalism-big-business-free-enterprise-poll-c052ca687269a2cc075423877b7904e6
[6] https://guides.library.columbia.edu/reporting/immigration
[7] https://edition.cnn.com/polling/approval/trump-polls
[8] ler mais sobre o sionismo em: https://corici.org/apoyamos-la-lucha-palestina-para-frenar-el-genocidio/
[9] https://circle.tufts.edu/latest-research/young-voters-power-mamdani-victory-shape-key-2025-elections
[10] https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2021/02/26/primeiro-ataque-militar-de-biden-mata-pelo-menos-17-no-leste-da-siria.htm
[11] https://www.newsweek.com/bernie-sanders-praises-trumps-job-on-securing-border-10933460
[12] https://www.cbsnews.com/newyork/news/zohran-mamdani-talks-about-president-trump-meeting/
[13] https://www.nbcnews.com/meet-the-press/video/zohran-mamdani-says-he-still-believes-trump-a-fascist-after-meeting-full-interview-252747845835

